Todos querem educar crianças seguras e autônomas, capazes de resolver os próprios conflitos e sentimentos. Contudo pouco se proporciona para que as crianças criem resiliência, aprendendo a tomar decisões e lidar com as consequências.
Na verdade, esse processo de ganho de autonomia representa um grande desafio para os pais, maior do que para as crianças. Caro leitor, sabemos que é aquela história do excesso de cuidado, com intenção apenas de ajudar, mas vamos refletir: quantas vezes você já fez algo no lugar do seu filho, ou interferiu em algum processo de aprendizagem apontando o erro e corrigindo você mesmo?
É a isso que nos referimos. Esse tipo de “auxílio” acaba mandando mensagens erradas ao cérebro infantil, pois está em processo de se governar conforme as próprias ideias. Uma vez que não chega ao erro e não precisa lidar com as consequências, não prova do gosto da realidade. Livrando-o de qualquer tipo de frustração, acaba-se condicionando a criança a esperar ajuda para realizar movimentos ou fazer escolhas. Privam-no de cometer erros essenciais para o desenvolvimento cognitivo e emocional, de ter iniciativas e de acreditar que mesmo errando é capaz de tentar.
Estudos comprovam que crianças autônomas tem um desenvolvimento acima da média emocional e intelectual, a resiliência é fortificada, mas também a memória, criatividade, capacidade de planejamento e execução, autoconfiança e identidade.
No entanto leitor, é preciso saber respeitar o ritmo de cada criança, para que vençam suas barreiras com segurança, tendo nitidez do apoio dos pais. Mas que fique claro que incentivar a autonomia não é dar passe livre para que as crianças fazerem o que quiserem. Incentivar é conscientizá-las a respeito das rotinas de casa e da escola, do cuidado com o corpo e a mente, com a relação com o outro e com o mundo que nos abrange.
Liberdade sem disciplina é um grave problema que se estende até a fase adulta. Ser autônomo não significa seguir o seu próprio rumo na vida, mas ter um senso de direcionamento e percepção do valor próprio.
Dicas de uma Pedagoga que não é mãe, no entanto, apaixonada pelo desenvolvimento infantil
Você pode achar um exagero dar autonomia para o bebê desde pequeno, mas trata-se de um processo gradual, que se desenvolve à medida que a criança realiza novas conquistas e adquire confiança em realizar as próprias ações. Preste atenção, nós não damos autonomia para a criança, nós a ensinamos deixando que resolva situações e conflitos que foram previamente discutidos e orientados, assim a escolha da criança pequena é supervisionada.
A teoria de Piaget aponta que antes dos dois anos a criança entende o mundo por meio de sensações e ações (sensório motor), no entanto, após os dois anos entende o mundo pela linguagem e imagens mentais (pré-operatória), fase que estão aptos e curiosos para aprender.
Sugerimos que desde os dois anos, por exemplo, a criança seja introduzida na rotina do lar, aprendendo a se alimentar, a sentar à mesa para fazer as refeições, guardar seus brinquedos, tentar colocar os sapatos, assim como fazemos na escola.
E com o passar do tempo ficará responsável por tomar banho, escolher e colocar a própria roupa, amarrar os próprios cadarços, pentear os cabelos, escovar os dentes, manter os brinquedos em ordem. Lembrando que antes de introduzir quaisquer dessas funções, é necessário dar algumas instruções, ter a rotina de fazer isso (dar o exemplo). Algumas crianças despertam essa necessidade mais cedo, pela condição natural do cérebro de imitar o outro em movimentos e atividades.
Ao começar a se vestir, por exemplo, não deixe que escolha dentro de todas as peças do guarda-roupas, dê três opções, limite para que não se sinta perdido e inseguro. Quando for se acostumando com a tarefa, dê mais autonomia.
Uma família e uma criança que possuem rotinas estabelecidas, e incentivam iniciativas, sendo que as tentativas precisam ser valorizadas, dão o suporte necessário para uma criança equilibrada emocionalmente e cognitivamente.
Lembre-se caro leitor, evite poupar as crianças das consequências de suas ações, respeite seu tempo de aprendizado e acredite na sua capacidade de resolver problemas e conviver em sociedade.
– Permita que em torno de 2 anos, a criança coma sozinha, mesmo que faça bagunça. Lembrem-se que a criança precisa descobrir o mundo e precisa experimentar.
– Ir ao banheiro é o primeiro passo em direção a autonomia, que inicia com o processo do desfralde que até os 2 anos (sendo específico de criança para criança), sendo que somente entre 4 e 5 anos após ser ensinada, a criança vai ao banheiro sozinha, para que com 6 anos consiga fazer sua própria higiene sem mais auxílios.
– Tomar banho sozinha, mais especificamente a partir dos 4 anos a criança tem bom repertorio de coordenação, onde consegue manter o xampu longe dos olhos.
– Fazer a lição de casa, varia de acordo com o tipo de tarefa, em média aos 6 anos a criança consegue entender os questionamentos e encontrar soluções, lembrando que devem sempre ser supervisionadas. Este momento é ideal para construção do conhecimento ao caminho do próprio raciocínio.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”
Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia
Fontes
https://novaescola.org.br/conteudo/7234/jean-piaget
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.
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